Amazônia e biodiversidade: por que é importante conservar?

Pelo menos 10% de toda a biodiversidade do mundo está na Amazônia. Saiba mais sobre esse bioma e o que podemos fazer para protegê-lo

Amazônia e biodiversidade: por que é importante conservar?

Pelo menos 10% de toda a biodiversidade do mundo está na Amazônia. Saiba mais sobre esse bioma e o que podemos fazer para protegê-lo

Publicado por
Jennifer Thomas
July 14, 2025
5
min de leitura

A Floresta Amazônica, maior floresta tropical remanescente do planeta, abriga pelo menos 10% da biodiversidade global conhecida atualmente. Famosa pela imensidão, a vida que habita a Amazônia é objeto de curiosidade, de pesquisas científicas, de produtos comerciais e de muito encantamento. De forma geral, florestas tropicais concentram mais de 50% das espécies de vertebrados — grupo que inclui mamíferos, aves, répteis, anfíbios e peixes. Com clima quente, úmido e vegetação densa, essas regiões favorecem a diversidade biológica, fundamental para a manutenção dos ecossistemas. Além de garantir o equilíbrio das espécies, proteger a biodiversidade amazônica e de outros biomas, permite manter os saberes de populações tradicionais e é fundamental no combater à crise climática.  

O que é biodiversidade?

A biodiversidade é o conjunto de todas as formas de vida existentes em uma determinada área. Ela inclui plantas, animais, fungos, bactérias e outros organismos, além dos diferentes ecossistemas onde essas espécies vivem. A biodiversidade é importante porque mantém o equilíbrio ecológico, ajuda na produção de alimentos, medicamentos e outros recursos essenciais, além de contribuir para a adaptação e sobrevivência das espécies diante de mudanças ambientais.

Como é a biodiversidade na Amazônia?

Mesmo que muitos animais não sejam facilmente avistados na vegetação densa da Amazônia, os sons que ecoam pela floresta revelam a presença de muitas vidas. De acordo com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o bioma abriga cerca de 40 mil espécies de plantas, 300 de mamíferos e 1,3 mil de aves em mais de 4,1 milhões de quilômetros quadrados de florestas densas e abertas.

De acordo com o geógrafo e pesquisador do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM), Carlos Durigan, a Amazônia é uma das regiões naturais do planeta com maior número de espécies. Isso se deve às características naturais da região que a conferiram o título de maior bacia hidrográfica e de maior floresta tropical contínua no mundo. “A Amazônia funciona graças à sua biodiversidade. As interações entre plantas, animais, microrganismos e ciclos climáticos mantêm a floresta viva e produtiva, influenciam o regime de chuvas de grande parte da América do Sul e sustentam o próprio equilíbrio ecológico da região, que também é base de vida e sustentação dos povos que vivem na Amazônia, indígenas, não-indígenas, rurais e urbanos", diz Carlos.  

Leia mais  
Turismo sustentável: o que é e como praticar

Quais espécies destacam a riqueza da fauna e flora amazônicas?

Entre plantas e animais, cada espécie executa uma função dentro da teia de conexões entre seres vivos da floresta, como dispersão de sementes, polinização de plantas e o controle de populações. Além das suas funções no próprio ecossistema, há espécies que se destacam e que se tornam símbolos da conservação. Muitas vezes, sua relevância se dá pela necessidade de proteger esses animais.

Algumas das espécies emblemáticas da Amazônia são:

Onça-pintada: maior felino das Américas e terceiro maior do mundo, é um predador de topo de cadeia que desempenha papel essencial no equilíbrio dos ecossistemas ao regular populações de presas. Está presente em quase todos os biomas brasileiros, com destaque para o Pantanal e a Amazônia. As principais ameaças à espécie são a perda de habitat, a caça e o tráfico ilegal.  

Boto-cor-de-rosa: é o maior golfinho de água doce do mundo e vive nos rios da bacia Amazônica. A espécie sofre um declínio populacional acentuado – as principais ameaças incluem caça ilegal, poluição, colisões com embarcações, seca dos rios, capturas acidentais por redes de pesca, lixo e construções de barragens.

Pirarucu: um dos maiores peixes de água doce do planeta, o pirarucu pode passar dos três metros e dos 200 quilos. Natural da bacia Amazônica, é vital para a subsistência de comunidades ribeirinhas. Sua respiração aérea, feita por uma bexiga natatória semelhante a um pulmão, o obriga a subir à superfície. Essa vulnerabilidade, combinada à pesca predatória, causou declínios significativos nas populações no passado. O manejo comunitário adequado para a sua exploração comercial tem permitido que a população desta espécie se recupere

Sumaúma: entre as maiores árvores da floresta amazônica, a sumaúma pode ultrapassar 70 metros de altura. Suas raízes largas e visíveis acima do solo ajudam a sustentar o tronco maciço. Considerada sagrada por muitos povos indígenas, tem importância cultural e ecológica e oferece abrigo a diversas espécies animais e vegetais.

Vitória-régia: planta aquática emblemática da Amazônia, a vitória-régia possui folhas circulares que flutuam e podem ultrapassar 1,5 metro de diâmetro. Além de símbolo da flora regional, está associada a lendas populares que integram o imaginário amazônico.

Leia mais  
Cursos gratuitos sobre sustentabilidade

Por que cuidar da biodiversidade na Amazônia?

Além da fauna e da flora, a diversidade da floresta inclui a espécie humana – indígenas, ribeirinhos e comunidades tradicionais que vivem na Amazônia. Segundo a superintendente de Desenvolvimento Sustentável de Comunidades da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Valcléia Lima, quando há um trabalho de preservação das espécies, inclusive a espécie humana, há, de uma certa forma, uma colaboração para que haja uma diminuição nos efeitos climáticos. “Quando preservamos os mananciais ou promovemos a conservação do pirarucu, por exemplo, entendemos que quando há o papel de cuidar, de conservar, estamos colaborando para que essa biodiversidade seja mantida, ampliada e que ela possa estar presente para as futuras gerações", explica.

Para ela, preservar a floresta, a fauna, a flora, os rios, igarapés e nascentes é manter o ecossistema completo. Isso passa por priorizar as populações que habitam o bioma e reconhecê-las como parte dessa diversidade.  

Além disso, conservar a biodiversidade amazônica é crucial por vários fatores, como manter serviços ecossistêmicos, sustentar culturas tradicionais e indígenas, proteger recursos naturais e genéticos com valor econômico e medicinal e evitar o colapso ecológico do planeta, combatendo a crise climática global e protegendo a saúde humana.  

Quais são as principais ameaças que comprometem a biodiversidade da Amazônia?

As pressões sobre a biodiversidade da Amazônia vêm se intensificando nas últimas décadas, impulsionadas por práticas predatórias e agravadas pelas mudanças climáticas. “As ameaças estão ligadas ao atual modelo de ocupação e produção, marcado pela fragmentação de habitats, expansão agropecuária, poluição, infraestrutura mal planejada e avanço da urbanização”, afirma Carlos, do IPAM.

A própria mudança do clima se tornou um risco para a floresta. Um exemplo recente é a seca extrema de 2023, considerada a pior em 120 anos, que afetou cerca de 30 milhões de pessoas na Bacia Amazônica. De acordo com um estudo da World Weather Attribution, o aquecimento global tornou esse evento 30 vezes mais provável, com impactos duradouros sobre os ecossistemas e populações da região.

Além disso, o garimpo ilegal é um desafio que impacta a fauna, a flora e os povos tradicionais. O uso de substâncias químicas na extração de ouro contamina rios, solos e afetam diretamente comunidades indígenas, como os Yanomami. “O desmatamento, as queimadas e os eventos extremos, como secas prolongadas, comprometem a vida nas comunidades, forçando deslocamentos e afetando a permanência das populações em seus territórios. Essas ameaças têm se tornado cada vez mais frequentes e permanentes", afirma Valcléia, da FAS.

Leia mais  
Crianças na natureza: os benefícios da vida ao ar livre  

Como o desmatamento impacta a biodiversidade na Amazônia?

Até o momento, a Amazônia perdeu 17% de sua cobertura nativa, segundo o MapBiomas. A diminuição de vegetação compromete habitats, isola espécies, quebra interações ecológicas e degrada solos e rios. Esse processo acelera a extinção de espécies, reduz a resiliência dos ecossistemas e favorece o surgimento de zoonoses. “Uma vez que o desmatamento na Amazônia sempre está associado a queimadas, ainda temos a morte de milhões de plantas e animais pelos incêndios todos os anos e a consequente emissão de uma grande quantidade de gases que vão contribuir com o aquecimento global", afirma Carlos.  

Para Valcléia, o impacto da perda vegetal também ameaça o conhecimento tradicional das populações locais. “Plantas como a goiabeira, usada para tratar distúrbios intestinais, ou o boldo, para problemas no fígado, fazem parte do conhecimento ancestral transmitido entre gerações. A retirada da cobertura vegetal compromete esse saber e afeta não só a vida terrestre como um todo, mas também a saúde e a cultura das populações humanas", diz.  

Por fim, há a aproximação do chamado “ponto de não retorno”, previsto para acontecer quando a Amazônia perder entre 20% e 25% da sua cobertura natural. A floresta pode perder a capacidade de manter seu ciclo hidrológico e entrar em colapso, dando lugar a uma vegetação mais seca e menos biodiversa.

Que ações ajudam a proteger a Amazônia e sua biodiversidade?

A preservação da biodiversidade da Amazônia depende de ações articuladas entre governos, empresas e consumidores. Ao poder público, cabe atuar por meio do fortalecimento da fiscalização ambiental, destinação de terras, do uso de tecnologias de monitoramento, da criação de Unidades de Conservação e do reconhecimento de territórios indígenas. Medidas contra a grilagem e o garimpo ilegal, além de políticas de incentivo à bioeconomia e a uma infraestrutura compatível com a floresta, também são essenciais para conter o desmatamento.  

No setor privado, é importante que as empresas façam o monitoramento de suas cadeias produtivas e criem ações espontâneas para a conservação do meio ambiente. Algumas companhias têm assumido compromissos climáticos e ambientais, como a Suzano, que se comprometeu a conectar 500 mil hectares de fragmentos florestais até 2030 nos biomas Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia, promovendo a conservação da biodiversidade por meio da criação de corredores ecológicos. Estes espaços conectam áreas isoladas de vegetação nativa, o que possibilita o deslocamento de animais, o aumento da cobertura vegetal e, consequentemente, a regeneração da biodiversidade.  

Já os consumidores podem contribuir ao optar por produtos com certificações socioambientais, apoiar organizações da sociedade civil, participar de campanhas e fomentar negócios sustentáveis baseados na floresta, como cooperativas locais.

“A cooperação entre sociedade civil, setor privado e poder público é essencial para assegurar um futuro sustentável. Cada setor tem responsabilidades e capacidades distintas, mas complementares, e somente com o engajamento coletivo será possível conservar a biodiversidade e os serviços ecossistêmicos dos quais todos dependemos”, diz Carlos.

Leia mais  
Conheça as práticas de sustentabilidade da Suzano

Conclusão

A proteção da biodiversidade amazônica vai além da conservação de espécies isoladas: envolve a manutenção de processos ecológicos vitais para o clima, para a saúde humana e para a sobrevivência de milhões de pessoas que habitam o bioma.  

Em um cenário de desmatamento ilegal, mudanças climáticas e pressões econômicas, o futuro da floresta depende de decisões políticas, engajamento social e modelos de desenvolvimento que respeitem os limites naturais. Garantir a integridade da Amazônia é determinante para enfrentar os desafios ambientais do presente e do futuro.

ILUSTRAÇÃO:
Laís Zannoco

Fique por Dentro

Confira outras postagens do nosso blog!

Podemos ajudar?

Busque pela resposta que precisa em nossas Perguntas Frequentes. Caso prefira, entre em contato com a gente pelo Fale Conosco.