
A natureza tem uma capacidade extraordinária de se regenerar – mas precisa de ajuda para se recuperar de danos causados ao longo de séculos. Ao redor do mundo, iniciativas de conservação ambiental provam que é possível reverter estragos, restaurar ecossistemas e criar um futuro mais equilibrado entre desenvolvimento humano e proteção do meio ambiente. De florestas que voltam a se desenvolver em áreas antes degradadas a espécies que retornam aos seus habitats naturais, diferentes estratégias mostram que ainda há tempo para agir.
O desafio, porém, é urgente. Segundo a ONU, 1 milhão de espécies – ou cerca de 25% da vida na Terra – corre risco de extinção na próxima década devido à ação humana. Pesquisadores alertam que estamos no início da Sexta Extinção em Massa, um processo acelerado pelo desmatamento, pela poluição e por mudanças climáticas. Mas se a humanidade é a responsável pela crise, ela também é responsável por revertê-la. Com recursos, conhecimento e tempo, os ecossistemas têm o potencial de se regenerar e retomar seu equilíbrio natural.
Qual é a diferença entre preservação e conservação ambiental?
Embora frequentemente utilizados como sinônimos, conservação e preservação ambiental têm significados diferentes. A preservação refere-se à manutenção intocada do ambiente natural, como uma floresta. Nesse modelo, o objetivo é proteger a área e garantir que o local tenha integridade e perenidade, sem a interferência humana.
A conservação, por sua vez, pressupõe a possibilidade de implantação de ações e estratégias de manejo. Quando se fala em conservação, está implícito que aquela região tem algum tipo de interferência humana para a sua manutenção, enquanto na preservação a área permanece intacta. A legislação ambiental brasileira estabelece diferentes mecanismos para cada abordagem: as Áreas de Preservação Permanente (APPs), como manguezais e matas ciliares, não permitem exploração econômica direta; já as Reservas Legais (RLs) possibilitam o uso sustentável dos recursos naturais.
"A conservação permite o manejo de espécies exóticas e a produção de produtos não madeireiros, como mel, resinas e frutos", explica Paulo Groke, diretor especialista do Instituto Ecofuturo, organização não governamental criada pela Suzano, com atuação em conservação ambiental e promoção do conhecimento sobre meio ambiente.
Qual a importância da conservação e da preservação ambiental?
As duas abordagens cumprem papéis essenciais e complementares. De acordo com a ONU, o objetivo global deveria ser preservar 30% dos ambientes terrestres e marinhos. "Sobraram poucos locais preservados no planeta e eles estão cada vez mais submetidos a diferentes pressões que os ameaçam. Não podemos perder mais um hectare", enfatiza Groke. A proteção desses redutos intocados é fundamental para garantir a manutenção de processos ecológicos em seu estado original.
A conservação, por outro lado, trabalha, na maioria das vezes, com áreas já degradadas ou fragmentadas. Nessas regiões, técnicas de manejo se fazem necessárias: controle de espécies invasoras, plantios de enriquecimento e potencial reintrodução de fauna. "A conservação trabalha com ferramentas de maneira inteligente, tentando entender o que o ambiente precisa", explica o especialista.
Um exemplo prático é o manejo florestal na Amazônia, onde áreas podem ser submetidas à extração controlada de madeira. Por meio de inventários detalhados, é possível retirar um percentual dos recursos com comprometimento mínimo do equilíbrio da floresta. Essas áreas de conservação devem, idealmente, estar próximas a áreas de preservação intocadas, que ajudam a cicatrizar as intervenções realizadas.
Estratégias de conservação ambiental
A conservação ambiental exige uma série de ações realizadas em conjunto. Confira algumas delas a seguir.
Uso sustentável dos recursos naturais
O uso sustentável dos recursos naturais representa uma estratégia fundamental. Quando um proprietário rural pode extrair frutos, resinas, mel, ou mesmo madeira, de sua reserva legal, por exemplo, ele se sente mais incentivado a mantê-la em pé. "A floresta não ficará absolutamente intocada, mas terá ali a biodiversidade possível, suficiente para trocas genéticas [reprodução de plantas e animais] e para cuidar dos recursos hídricos", explica Groke.
A Suzano, por exemplo, estimula o extrativismo sustentável em comunidades do Maranhão. A companhia incentiva que famílias acessem áreas de conservação da empresa para coletar, de maneira sustentável, frutos como babaçu e açaí. O objetivo é desenvolver o extrativismo vegetal e a agricultura familiar, respeitando as relações socioeconômicas e culturais dessas comunidades – como as das quebradeiras de coco babaçu. A iniciativa oferece investimentos em infraestrutura, capacitação e assistência técnica, estruturando a gestão, produção e comercialização dos produtos. Além de contribuir para a conservação das florestas, a iniciativa alavanca a renda familiar e está alinhada ao compromisso da Suzano de retirar 200 mil pessoas da linha da pobreza até 2030.
Restauração de áreas degradadas
A restauração de áreas degradadas constitui outra frente crucial e envolve um conjunto integrado de ações. O processo começa com o planejamento da paisagem, considerando unidades de conservação, remanescentes florestais, corredores ecológicos e mananciais do território. Para ampliar o alcance das iniciativas, é fundamental reunir diferentes atores – instituições públicas e privadas, ONGs, comunidade científica e proprietários de terra. A recuperação dos ecossistemas combina restauração passiva (quando a área se regenera naturalmente) e ativa (com plantio de espécies nativas e/ou semeadura), controle de invasoras e formação de corredores que conectam fragmentos de floresta. O monitoramento contínuo avalia desde o desenvolvimento das mudas até os indicadores ecológicos que garantem a perpetuidade da área. A estratégia também desenvolve a cadeia produtiva da restauração, gerando renda e oportunidades de trabalho para as comunidades locais, ampliando, assim, os benefícios sociais da conservação.
A Suzano mantém um compromisso estruturado com a recuperação de ecossistemas. Além de dedicar 1,1 milhão de hectares de suas áreas totais à conservação, a empresa trabalha, desde a década de 1990, em iniciativas de restauração ecológica em diferentes regiões, impactando positivamente mais de 39 mil hectares em processo de recuperação. A meta é ambiciosa: até 2030, 98 mil hectares de áreas conservadas em propriedades da empresa estarão em processo de restauração ecológica.
Um caso emblemático é o Parque das Neblinas, em São Paulo. A região teve sua floresta derrubada nos anos 1940 para a produção de carvão e, décadas depois, a Suzano adquiriu a área e identificou que aquela fazenda tinha mais vocação para conservação do que para plantio de eucalipto. A partir de 1999, o Instituto Ecofuturo promoveu a transformação da antiga área degradada em uma das maiores reservas privadas de Mata Atlântica do país. Um desafio inicial era a reintrodução da palmeira-juçara, espécie-chave que fornece alimento para cerca de 70 espécies da fauna. Até hoje, foram distribuídas cerca de 9 milhões de sementes de juçara dentro do parque, atraindo de volta animais como a jacutinga que, ao se alimentarem, dispersam sementes de outras espécies e aceleram a restauração natural.
Monitoramento de espécies ameaçadas
O monitoramento de espécies ameaçadas também desempenha um papel vital para a conservação de ecossistemas, já os cientistas precisam de dados para entender com profundidade como as espécies se comportam e para encontrar maneiras de conservá-las. Tecnologias como drones com sensores térmicos, microfones que captam sons da floresta e análise de DNA em amostras de solo permitem um retrato cada vez mais preciso da biodiversidade local.
Ao mesmo tempo, a reintrodução de fauna – ou seja, o processo de devolver animais a ambientes de onde eles desapareceram, com o objetivo de restabelecer populações de espécies e contribuir com o equilíbrio ecológico de um ecossistema – representa uma das estratégias mais complexas. "É um procedimento caro e exige um trabalho muito técnico", observa Groke. O processo inclui cuidados veterinários e treinamento comportamental para que os animais aprendam a se alimentar sozinhos na natureza, por exemplo. Apesar dos desafios, iniciativas do tipo, como a reintrodução de ararinhas-azuis na Caatinga, carregam um valor fundamental. "É uma questão de ética. A mesma espécie que a humanidade contribuiu para a extinção passa a fazer parte de um esforço para que seja recuperada", explica Groke.
Como podemos contribuir para a conservação ambiental?
Mudanças individuais também fazem diferença. A economia de água e energia reduz a pressão sobre os recursos naturais. A reciclagem e o reaproveitamento diminuem a geração de resíduos e a necessidade de extração de matérias-primas.
"A estratégia mais eficaz de conservação é fazer com que as pessoas retomem suas conexões com a natureza", defende Groke. Levar crianças e adultos a áreas verdes, promovendo a reconexão com o ambiente natural, forma gerações mais conscientes.
Qual o papel das empresas na conservação ambiental?
Diversas atividades essenciais para a economia dependem dos recursos naturais. Segundo a Unesco, 78% dos empregos no mundo dependem diretamente da disponibilidade de água. Além disso, 44 trilhões de dólares de valor econômico gerado – mais da metade do PIB mundial – são moderados ou altamente dependentes da natureza.
"As empresas precisam da natureza para se manterem sustentáveis. Sem água e outros recursos naturais, elas não existem", pontua Groke. Além disso, investidores buscam cada vez mais empresas que cuidam da natureza, pressionando por práticas que garantam a perenidade dos negócios.
O Parque das Neblinas ilustra como o setor privado pode contribuir significativamente com a conservação. Mantido pelo Instituto Ecofuturo desde 1999, o parque protege 7 mil hectares de Mata Atlântica, onde são desenvolvidas atividades de educação ambiental, pesquisa científica, ecoturismo e restauração florestal. Mais de 1.300 espécies de fauna e flora já foram registradas, incluindo quatro novas para a ciência.
Reconhecido desde 2006 pela UNESCO como Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, o parque demonstra que áreas antes degradadas podem ser transformadas em importantes centros de conservação por meio de investimento empresarial estruturado e de longo prazo.
Conclusão: preservação e conservação devem caminhar juntas
Para garantirmos o futuro da vida no planeta e exercermos nossa responsabilidade na recuperação do meio ambiente, devemos agir unindo diferentes estratégias de cuidados com os ecossistemas. A combinação de preservação de áreas intocadas, conservação ativa de regiões degradadas, uso sustentável de recursos e reconexão das pessoas com a natureza é crucial para reverter a perda de biodiversidade e construir um planeta mais equilibrado para as próximas gerações.