Qual é a importância da COP30? 

A conferência mais importante sobre clima, organizada pela ONU, acontecerá no Brasil em novembro. Entenda por que as expectativas para o encontro são altas

Qual é a importância da COP30? 

A conferência mais importante sobre clima, organizada pela ONU, acontecerá no Brasil em novembro. Entenda por que as expectativas para o encontro são altas

Publicado por
Jennifer Thomas
August 11, 2025
5
min de leitura

Em novembro de 2025, o Brasil será palco de um dos eventos mais relevantes do calendário internacional sobre clima: a 30ª Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30. O encontro será realizado em Belém, no coração da Amazônia, e deve reunir representantes de quase 200 países para discutir os rumos da ação climática global.

Todos os anos, uma reunião preparatória para a conferência do clima acontece em Bonn, na Alemanha. O encontro é uma espécie de termômetro para o evento principal e as delegações se dedicam às negociações técnicas, em um espírito de adiantar o máximo possível das discussões para alcançar um resultado satisfatório na COP.

Na edição de 2025, o trabalho feito em Bonn foi considerado positivo diante da agenda de prioridades da organização da COP30. Textos sobre a meta global de adaptação (GGA, na sigla em inglês) e sobre a transição justa – temas de destaque nas manifestações do embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30 – tiveram melhorias mais evidentes, enquanto as discussões sobre a implementação do global stocktake (GST), o balanço geral do Acordo de Paris, não resultaram em grandes avanços.

Em sua quarta carta da Presidência Brasileira, Corrêa do Lago afirmou que, para apoiar a implementação do GST, “a Agenda de Ação da COP30 será moldada como um ‘celeiro de soluções’ — um repositório de iniciativas concretas que conectam a ambição climática com oportunidades de desenvolvimento em investimentos, inovação, finanças, tecnologia e capacitação”.

Mais do que um compromisso diplomático, essa edição tem potencial para ser um divisor de águas na implementação do Acordo de Paris e conectar decisões multilaterais aos desafios e soluções que partem diretamente dos territórios mais afetados pela crise climática.

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O que é a COP30?

A conferência do clima é o principal espaço de negociação entre os países que integram a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, em inglês). Todos os anos, chefes de Estado, ministros, negociadores e representantes da sociedade civil se reúnem para debater estratégias de enfrentamento da emergência climática. “As COPs são importantes momentos para os países decidirem como vão continuar o enfrentamento da crise climática”, afirma Stela Herschmann, especialista em política climática do Observatório do Clima. “É ali, por exemplo, que se constroem os acordos, como no caso do Protocolo de Quioto e do Acordo de Paris, mas também onde se avança nas regras de implementação desses acordos e se dão sinalizações políticas importantes”, explica.

Em 2025, o evento ganha peso histórico: marca dez anos desde a assinatura do Acordo de Paris, que estabeleceu como meta que o aquecimento global deveria ficar abaixo de 2°C, com esforços para limitar esse aumento a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, e inaugura uma nova fase nas negociações. “O marco de dez anos é um momento de reavaliação, de pensar o futuro, ainda mais é em um contexto em que temos o agravamento da crise climática e a baixa do multilateralismo”, lembra. Após anos de discussão sobre o chamado “livro de regras” do Acordo de Paris, que estabeleceu o que deveria ser seguido para a diminuição do aquecimento global, há expectativas de que o Acordo seja implementado. “A crise climática está se agravando e os países não estão dando as respostas à altura, nem com a velocidade que a crise exige”, diz Stela.

Quando e onde será a COP 30?

Marcada para os dias 10 a 21 de novembro de 2025, a conferência acontecerá no Brasil em Belém, capital do Pará. Às margens da Baía do Guajará e no coração da Amazônia brasileira, a cidade foi escolhida por sua posição estratégica na agenda ambiental global. A decisão tem peso simbólico e prático: será a primeira vez que o principal evento climático das Nações Unidas será realizado na Amazônia, região essencial para o equilíbrio do clima, mas também marcada por profundas desigualdades e desafios ambientais.

As conferências anteriores ajudaram a compor o caminho até Belém. A COP28 foi realizada em 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e ficou marcada por reconhecer, pela primeira vez, a necessidade de transição dos combustíveis fósseis. Em 2024, a COP29 ocorreu em Baku, no Azerbaijão, com foco central no financiamento climático. Apesar da importância do tema, o resultado foi considerado insatisfatório e deixou uma sensação de fracasso após a conferência. Agora, cabe à COP30 mostrar que resultados positivos podem ser obtidos com a presidência da conferência pelo Brasil.

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Qual é a importância da COP30?

A expectativa em torno da COP30 é alta porque ela acontece em um momento-chave: até o fim de 2025, os países devem apresentar novas metas climáticas (chamadas de NDCs, ou Contribuições Nacionalmente Determinadas, em português), mais ambiciosas para limitar o aquecimento global a, no máximo, 1,5 °C. Também deve haver avanços no financiamento climático, especialmente para países em desenvolvimento, e no apoio à adaptação de populações mais vulneráveis. Ao ocorrer na Amazônia, a conferência reforça a urgência de uma transição que seja justa, inclusiva e conectada com as realidades dos territórios.

Na avaliação de Stela, essa edição pode marcar o fim da fase mais burocrática e o início de uma era mais prática nas negociações. “Mesmo que um país pare de emitir completamente, ainda será impactado pelas emissões de outros. As mudanças climáticas não respeitam fronteiras. O multilateralismo é a única forma possível de enfrentar esse desafio global”, afirma. Apesar disso, ela reconhece que o ritmo atual ainda é lento. “As COPs produzem avanços incrementais, mas estão muito aquém da urgência que o momento exige”, diz.

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Quais são as tendências da COP30 no Brasil?

Entre os temas prioritários da presidência brasileira para a COP30 estão a definição de indicadores para a meta global de adaptação climática, o avanço do programa de transição justa (Just Transition Work Programme) e os desdobramentos do Global Stocktake feito em 2023, um balanço geral do Acordo de Paris. Em paralelo, há expectativa em torno das novas NDCs, as metas climáticas dos países, que devem ser entregues até o segundo semestre de 2025. “As NDCs estão vindo e não estão traduzindo adequadamente o que o balanço global apontou como necessário”, alerta Stela.

Com relação aos indicadores de adaptação climática, são eles que vão direcionar o Global Goal on Adaptation (GGA), compromisso previsto no Acordo de Paris. A adaptação às mudanças climáticas deve ganhar destaque especial em Belém como uma das frentes mais urgentes da agenda global. Países em desenvolvimento vêm pressionando por mais recursos e por uma estrutura robusta para implementar o GGA. Em um evento em Brasília, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, afirmou que a adaptação será um tema central da conferência ao destacar o papel do Brasil na articulação de soluções práticas e inclusivas.

Outro ponto de atenção na COP30 será a capacidade de avançar no financiamento climático, tema que fez com que a conferência em Baku fosse considerada um fracasso. “Estabeleceu-se uma nova meta altamente insuficiente, que flexibilizou as responsabilidades dos países desenvolvidos. Diante disso, o Brasil, junto com o Azerbaijão, propôs traçar um caminho para sair dos 300 milhões de dólares propostos na COP29 e alcançar a meta defendida pelos países em desenvolvimento, de 1,3 trilhão”, diz Stela.

E um grande desafio será retomar a discussão sobre o uso de combustíveis fósseis. “Esse é o elefante no meio da sala. Os combustíveis fósseis são responsáveis por cerca de 75% das emissões globais e a menção a esse tópico ainda não foi feita de maneira explícita”, diz Stela. Nesse sentido, ela afirma que o sucesso da COP30 não poderá ser medido apenas por decisões que mudem procedimentos. “O Brasil deveria almejar um resultado que vá além dos avanços incrementais. O momento exige uma resposta à altura do desafio.”

Quem pode participar da COP30?

Delegações oficiais de quase 200 países, compostas por negociadores, ministros e chefes de Estado, são esperadas em Belém. Também costumam participar da conferência representantes da sociedade civil, empresas, academia, povos indígenas, comunidades tradicionais, quilombolas, juventudes e governos locais. Essa diversidade é considerada essencial para fortalecer o diálogo multissetorial e ampliar o engajamento em torno de soluções climáticas, especialmente em uma conferência realizada em um território como a Amazônia.

A COP é dividida em dois espaços principais:

Blue zone: controlada pela ONU e acessível apenas a credenciados (como ONGs, empresas, universidades e entidades da sociedade civil registradas junto à UNFCCC).

Green zone: local de acesso livre ao público organizado pelo país anfitrião no qual são realizados debates, exposições, oficinas e eventos culturais abertos à população, com foco em educação ambiental e soluções climáticas.

Além disso, muitas organizações da sociedade civil, como empresas e ONGs, realizam eventos paralelos e mobilizações durante o período da conferência, criando uma programação ampla e diversa para quem quer se engajar no tema, mesmo sem participar das negociações oficiais.

Conclusão

A COP30 será mais do que uma conferência internacional: será um termômetro da disposição política do mundo em enfrentar, de forma concreta, a crise climática. Com os olhos voltados para Belém, a expectativa é que os países avancem para além de acordos e entreguem compromissos reais, especialmente no que diz respeito à transição justa e ao abandono dos combustíveis fósseis.

Ao sediar o evento no coração da Amazônia, o Brasil tem a chance de impulsionar soluções que valorizem a preservação das florestas e a justiça climática, conectando as decisões globais às realidades locais. O sucesso da COP30 dependerá da capacidade coletiva de transformar promessas em ação.

ILUSTRAÇÃO:
Laís Zannoco

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