
Explorar trilhas ecológicas, observar animais na natureza, visitar um parque de conservação. Essas atividades são muito valiosas para a educação ambiental. Mas você sabia que não é preciso ir longe para começar a praticá-la? Na verdade, mesmo vivendo em uma grande cidade, a educação ambiental pode ser cultivada por meio de atitudes simples que ajudam a cuidar do que está perto de nós, como sua escola, casa e bairro. Afinal, só é possível proteger o planeta quando atuamos em nosso espaço cotidiano.
Neste texto, você vai descobrir o que é a educação ambiental, como ela transforma crianças e adultos e ações práticas para realizar em seu dia a dia.
O que é educação ambiental?
A educação ambiental é um processo educativo que busca despertar a ação individual e coletiva para cuidar do meio ambiente. Mais do que transmitir conhecimentos, ela incentiva uma conexão real com a natureza e a adoção de comportamentos responsáveis que ajudam a conservar os recursos naturais e enfrentar os desafios ambientais de hoje e do futuro, como define o Congresso Internacional de Educação e Formação sobre Meio Ambiente, iniciativa da Organização das Nações Unidas (ONU) para fortalecer as políticas de educação ambiental no mundo.
“Quando falamos de educação ambiental, estamos falando de práticas e estudos para proteger o meio ambiente, nos incluindo nele”, explica Maria Henriqueta, integrante da coordenação do MonitoraEA (Sistema Brasileiro de Monitoramento e Avaliação de Políticas Públicas de Educação Ambiental) Por isso, cuidar do meio ambiente é também cuidar de si e do lugar onde se vive: “Nossa casa, nossa escola, nossa rua, bairro e cidade”, diz Valéria Blos, diretora geral do Instituto Ecofuturo, organização não governamental mantida pela Suzano e dedicada à educação e à conservação ambiental. Valéria destaca que a natureza existe em todo lugar. “Até em áreas urbanas, pequenas ações como reciclar o lixo, realizar compostagem nas escolas e recriar pequenos ambientes naturais em espaços fechados podem ser formas de despertar para o tema”.
Entender o que é a educação ambiental é o primeiro passo para reconhecer seu papel transformador. E, dentre tantas possibilidades, esse processo pode começar em um ambiente que envolve crianças, famílias, educadores, autoridades e comunidades locais: as escolas.
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Por que a educação ambiental nas escolas é essencial?
Já parou para pensar que a escola é um dos lugares onde as crianças passam a maior parte do dia? Por isso, ela também pode ser um espaço privilegiado para aproximá-las da natureza. Segundo uma publicação do Instituto Alana, organização brasileira que atua na promoção dos direitos das crianças e na construção de um futuro mais sustentável, as escolas são fundamentais para o aprendizado sobre o meio ambiente. Nessa mesma linha, o Eco-Schools — programa internacional de educação ambiental presente em dezenas de países — destaca que a transformação pode começar dentro da sala de aula, se expandir para toda a escola e, pouco a pouco, alcançar também a comunidade.
Nesse contexto, a educação ambiental pode ser compreendida por meio de quatro abordagens complementares:
Educação sobre o ambiente
Essa abordagem está focada nos conhecimentos sobre o meio ambiente como objeto de aprendizado curricular, envolvendo leituras sobre temas relevantes: O que são os biomas, qual a importância da biodiversidade e o que significa aquecimento global são alguns exemplos.
Em muitos contextos, quando pensamos na educação ambiental nas escolas lembramos apenas da educação sobre o meio ambiente. Até mesmo, associando-a somente ao estudo do tema em datas como o Dia Mundial do Meio Ambiente e o Dia da Árvore. Apesar dessas práticas serem importantes, sozinhas elas não são o suficiente. É o conjunto dessas abordagens que permite à comunidade escolar refletir e aprender a partir de seu contexto e realidade. Por isso, existem outros pilares da educação ambiental.
Educação para o ambiente
Já pensou em realizar projetos para o meio ambiente como meta de aprendizado? É justamente o que essa abordagem faz ao propor, de forma prática, o engajamento com a prevenção de problemas ambientais.
A educação para o meio ambiente começa com perguntas simples, como: o que precisamos mudar nessa sala de aula? Eu preciso ficar com a luz acesa durante o dia inteiro? Como podemos resolver a torneira que está pingando? Reflexões como essa são essenciais para implementar pequenas mudanças que geram grandes benefícios para o planeta, por exemplo, reduzir o gasto de energia e de água.
Educação no meio ambiente
Vivenciar a natureza, tocar a terra e praticar atividades divertidas ao ar livre são exemplos de como praticar a educação no meio ambiente. Esse contato com a natureza é essencial para engajar a comunidade escolar na adoção de práticas mais sustentáveis, “com a vida que levamos – cada vez mais restrita a espaços fechados, como prédios e shoppings – cada minutinho ao ar livre importa”, afirma Maria Isabel, pesquisadora do programa Criança e Natureza do Instituto Alana.
É contemplando e tocando as formas de natureza que, muitas vezes, as pessoas despertam para a urgência de conservá-la. “Hoje, na Conferência Nacional Infantojuvenil pelo Meio Ambiente, vemos diversos secretários de meio ambiente que, quando criança, participaram da 1ª edição como estudantes. Eram jovenzinhos que hoje estão super engajados na causa ambiental”, exemplifica Maria Henriqueta, do MonitoraEA.
Além disso, a educação no meio ambiente vai além do aprendizado para a proteção do meio ambiente, sendo uma forma de aprender sobre o mundo como um todo. “Em contato com a natureza, vivendo-a e observando-a, a gente aprende de forma prática sobre física, matemática, arte e tantas outras disciplinas escolares”, diz Valéria.
Educação a partir do meio ambiente
Ainda pouco abordada no ensino convencional, a educação a partir do meio ambiente considera os saberes dos povos tradicionais e originários e sua relação respeitosa com a natureza como um importante pilar da educação ambiental.
“Essa abordagem permite superar a relação de exploração da natureza e proporciona o aprendizado de técnicas e práticas indígenas e quilombolas que podem ser implementadas para transformar as escolas em espaços mais ecológicos, agradáveis e repletos de natureza”, explica Maria Isabel. Além disso, essa abordagem une a educação ambiental à educação antirracista, impulsiona o aspecto social da sustentabilidade e fortalece a diversidade, equidade e inclusão.
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Você conhece o pilar social da sustentabilidade?
Por fim, a UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) reconhece a educação ambiental como um elemento essencial para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Sendo esses alguns dos motivos para diversos países do mundo terem políticas e legislações específicas que tornam a educação ambiental obrigatória nas escolas.
O que diz a legislação sobre a educação ambiental nas escolas?
No Brasil, a educação ambiental nas escolas é fortalecida pela Lei nº 14.926 de junho de 2024 – que alterou a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA). Essa nova lei define a inclusão obrigatória da educação ambiental no currículo da educação básica, com foco para as mudanças climáticas, a proteção da biodiversidade e os riscos e vulnerabilidades a desastres socioambientais.
No mundo, essa é uma tendência impulsionada pela UNESCO, que declara que a educação ambiental deve ser um componente curricular básico até 2025.
Benefícios da educação ambiental para a comunidade escolar
Além da conscientização sobre a preservação do planeta e do incentivo à adoção de estilos de vida mais sustentáveis, a educação ambiental está relacionada a diversos benefícios para a comunidade escolar. Confira alguns a seguir.
Promover refúgio climático
Escolas que, por meio da educação ambiental, transformam seu espaço físico em áreas com mais presença de elementos naturais estão mais adaptadas para enfrentar os desafios climáticos, como o calor excessivo e as enchentes. A presença de árvores, por exemplo, é sinônimo de sombra nos dias quentes, maior ventilação natural e conforto para toda a comunidade escolar.
Estimular a imaginação e o pensamento crítico
A diversidade de texturas, cheiros e tons da natureza, somada à reflexão sobre a importância da preservação do meio ambiente, estimula brincadeiras mais complexas que envolvem a imaginação e a capacidade de negociação das crianças, por exemplo. Na natureza, não há um único elemento que seja idêntico ao outro e, por isso, as crianças são estimuladas a colaborar com recursos que se diferenciam dos habituais brinquedos industrializados. Essa criatividade também pode significar um melhor desempenho escolar.
Reduzir o “analfabetismo físico”
Crianças que aprendem em contato com o meio ambiente desenvolvem mais força física, agilidade, flexibilidade e treinam habilidades essenciais para seu desenvolvimento. “Hoje em dia, os pediatras alertam para o analfabetismo físico, que é a perda das habilidades motoras: da capacidade de correr ou até caminhar sem tropeçar nos próprios pés. As experiências com a natureza são fundamentais para reverter esse problema”, enfatiza Maria Isabel.
Reduzir o estresse e estabelecer conexões mais saudáveis
Estudos sobre estresse nas escolas apontam esse como um problema que afeta toda a comunidade escolar. Em pesquisas conduzidas com crianças de 7 a 8 anos, 44,5% delas apresentaram estágios avançados de stress emocional – já próximos à exaustão – o que resulta em desafios de comportamento e conflitos com professores e familiares.
Nesse cenário, a educação ambiental surge como meio eficaz para possibilitar o aprendizado enquanto promove o relaxamento e a diminuição de transtornos comportamentais. São necessários apenas 15 minutos na natureza para começar a sentir a redução do cortisol, o hormônio do stress. Além disso, sons como a água correndo ou o canto dos pássaros, contribuem para melhorar o humor e a disposição, destaca o livro The Nature Fix: Why Nature Makes us Happier, Healthier, and More Creative, de Florence Williams (A natureza cura: Porque a natureza nos faz mais feliz, saudáveis e criativos, em tradução livre, sem edição no Brasil).
Como desenvolver a educação ambiental nas escolas?
Para que seja eficaz e permanente, a educação ambiental nas escolas deve envolver quatro pilares fundamentais: a capacitação da gestão e dos educadores, a estruturação do currículo, o engajamento da comunidade e a reflexão sobre o espaço físico escolar. Pensando nisso, desde 2010, o Instituto Ecofuturo desenvolve o Programa Meu Ambiente. Realizado com escolas públicas municipais, a iniciativa promove a reflexão sobre questões ambientais e incentiva educadores a criarem contextos de aprendizagem que envolvam os elementos da natureza, dentro e fora da sala de aula. O projeto, que conta com atividades na Mata Atlântica, está se expandindo e sendo levado para o Pantanal, além de inspirar iniciativas de educação ambiental na China.
Confira a seguir algumas ideias inspiradas no Programa Meu Ambiente que você pode desenvolver para começar a praticar a educação ambiental hoje.
Horta ou Jardim Escolar
Plantar, regar e colher desperta todos os sentidos. Além de divertido, o contato com a terra ajuda no desenvolvimento integral das crianças e mostra, na prática, os ciclos e as estações da natureza.
Oficina de desenhos ao ar livre
Convide as crianças a observar a paisagem e registrá-la no papel. Vale usar lápis de cor, mas também folhas secas, galhos e até terra como tinta natural. É uma forma de desacelerar, sair das telas e prestar atenção nos sons e cores ao redor.
Jogo da memória
Nos dias de chuva, fotos de animais, folhas, sementes ou flores podem virar cartas. Além de divertido, o jogo fortalece a memória e a conexão com o meio ambiente.
Trilhas de observação
Uma simples caminhada pela escola ou pelo bairro já é suficiente para olhar a natureza com outros olhos. Pergunte: há árvores por perto? Como cuidamos do espaço? Onde podemos melhorar? Se possível, leve as crianças para trilhas em parques de conservação, reservas de patrimônio natural ou em outras áreas de vegetação nativa. Um exemplo é o Parque das Neblinas, em São Paulo, reserva ambiental da Suzano, gerida pelo Instituto Ecofuturo, com 7 mil hectares de Mata Atlântica, que possui atividades como trilhas, cicloturismo e canoagem. Acesse a programação na agenda do Parque.
Jornal colaborativo sobre sustentabilidade
Já pensou em produzir um jornalzinho colaborativo sobre temas de sustentabilidade? Você pode se inspirar no JornalEco, iniciativa da Suzano, companhia produtora de papel e celulose, que reúne materiais e atividades educativas sobre a conservação do meio ambiente para educadores e estudantes do Ensino Fundamental nas comunidades do Mato Grosso do Sul.
Que tal reunir notícias, dicas e atividades sobre o meio ambiente e produzir o jornal da sua escola, bairro ou condomínio? Essa é uma forma envolvente de praticar a escrita, compartilhar conhecimento e mobilizar toda a comunidade em torno da sustentabilidade. Além das ideias que conheceu até aqui, a educação ambiental também pode ser praticada em casa ao refletir sobre a importância da separação e reciclagem do lixo, ao escolher embalagens mais sustentáveis e, até mesmo, ao praticar a criatividade inventando brinquedos recicláveis com as crianças.
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Conclusão
A educação ambiental é essencial para o bem-estar das pessoas e do planeta. E, quando vivida na escola e no contato direto com a natureza, gera um efeito multiplicador. É como explica Valéria, do Instituto Ecofuturo: “Começa com um ‘riachinho’ - uma experiência, um projeto, uma vivência - e se espalha, formando novos fluxos que alcançam outras crianças e educadores. Assim como na natureza, esse movimento se ramifica, ganha força e cria novas vertentes. Por isso que acreditamos na educação ambiental como um caminho para despertar, transformar e libertar”.